Amuleto
Composição: LUCAS POLONIA.AMULETO
(LUCAS RIOS)
Não herdei bênçãos — herdei fragmentos.
Cacos de um nome que ninguém escreveu.
Carrego no pulso a linha do risco
que o tempo esqueceu… mas o medo entendeu.
Não foi dado. Foi inscrito.
Em mim, por mim, contra mim.
Na dobra do erro, um pacto velado
com o que pulsa quando tudo diz fim.
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Não brilha. Não reluz.
Mas me vê onde ninguém ousa olhar.
Não recita preces.
Ele sussurra o que o verbo não pôde salvar.
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Meu amuleto não consola — ele lembra.
É vestígio do grito que escolhi calar.
Não repele o mal — ele o ensina.
É cicatriz que molda o mundo devagar.
Não é joia.
É sentença.
Não me decora —
me sustenta.
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Chamaram de fetiche, de medo, de resto.
Mas nunca caiu do meu centro.
Ficou quando ninguém mais ficou.
Falou quando perdi meu instrumento.
Já tentei deixá-lo em altares falsos.
Mas ele voltava, no sonho ou na ausência.
É o selo do que fui, do que sangra comigo,
do que não precisa licença.
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Não reza. Não pesa.
Não cabe em vitrine ou doutrina.
Mas no dia em que o chão tremeu —
foi ele quem firmou a disciplina.
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Meu amuleto não consola — ele lembra.
É o espelho do que o tempo tentou apagar.
Não repele o mal — ele o converte.
É o que ficou… depois do verbo quebrar.
Não é símbolo.
É vestígio.
Não me enfeita —
me define.
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Foi forjado no silêncio.
Batizado na perda.
Não serve à fé —
serve à queda que me fez levantar.
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Meu amuleto não protege —
ele pactua.
Não me impede de cair —
mas me prende à estrutura.
É o que me salva sem se explicar.
É a luz que não quer brilhar.
É o que fica.
Mesmo quando eu
me apagar.

