MANUAL DO FIM DO MUNDO (LUCAS RIOS) Dizem que a fé liberta, mas temem o som do tambor. Chamam de mal o que vibra no escuro porque não enxergam o amor. Erguem muros contra o mistério, mas constroem castelos com símbolos velados. E o que não podem dominar, condenam como pecado. Juram defender a verdade, mas a trancam em cofres dourados. Vendam os olhos do povo, pra que os portões fiquem fechados. A verdade não some — se esconde. E só quem foi lapidado enxerga o horizonte. Porque a luz que incomoda não é a que cega, é a que revela. E nem toda pedra será moldada — só as que o tempo revela. Eles temem o que não controlam E apagam o nome de quem veio do barro Mas a verdade que se cala por um tempo… volta inteira — e corta como um faro. Toda vez que tentaram apagar o tambor, o chão tremeu. Toda vez que tentaram esconder a alma, o corpo resistiu, o espírito acendeu. Eles dão o nome que convém à história, mas a memória sabe a raiz. E quem veio do tronco curvado já nasce com sede de cicatriz. Somos filhos da sombra lapidada. Do silêncio que brada. Da dúvida que ilumina. Do barro que escolhe a própria forma. Eles maquiam a mentira com trono e vestes claras Mas a verdade está nos olhos de quem não tem nada Lapidado na dor, na exclusão, no açoite — É quem não coube no molde… que carrega a luz da noite!