Tambor Rachado
Composição: LUCAS POLONIA.TAMBOR RACHADO
(LUCAS RIOS)
Chamaram de sombra o que não sabiam nomear.
Selaram a dúvida com fogo e cetro.
Quando o som fugiu dos corredores santos,
construíram um altar pra silenciar.
Mas a batida sobreviveu nos ossos.
E onde queimaram o símbolo,
a rachadura virou boca —
e falou.
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O tambor não reza.
O tambor não curva.
O tambor lembra
o que fizeram calar.
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Toca!
Mesmo rachado, toca!
Mesmo exilado, vibra!
O tambor é a língua esquecida —
que ninguém traduziu, mas ninguém apagou.
Toca!
Mesmo em segredo, toca!
Mesmo no chão, respira!
O tambor é a carne sem dono —
e ela grita onde tudo mentiu.
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Cobriram o vazio com pano sagrado.
Ergueram muralhas de palavras sem rosto.
Mas há um som que vive por trás do silêncio —
e treme quando chamam de falso o mistério.
O tambor é aquilo que não coube nos livros.
É o ritmo dos nomes varridos do templo.
É a fala sem templo,
o verbo sem dono,
o corpo que dança onde tentaram morrer.
Não há doutrina onde a pele se rompe.
Não há prece que apague o som antigo.
O tambor não serve vestes nem coroas.
Ele serve ao que arde no esquecimento.
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Toca por tudo que chamaram de errado!
Toca por tudo que queimaram no escuro!
O tambor rachado ainda pulsa —
e o que pulsa… é o que sobreviveu ao muro!

