Biblioteca Da Saudade
Composição: Tiago Barros.Sábado de manhã — o céu cinza respira em neblina,
O parque transborda corpos e cartazes vendendo serotonina.
Poderíamos dançar nessa onda elétrica de luz,
Mas a vida escolheu o trilho áspero, onde o cotidiano nos conduz.
Se saudade fosse um livro, eu ergueria cem prateleiras em teu nome,
Cartografando cada ausência, cada corte suave que consome.
E mesmo entre pesos, ruídos e restos do que não foi,
Sinto que estás bem — e talvez o caminho certo nunca nos inclui.
Na dobra do destino, o acaso sussurra teu retrato,
E o tempo, cego, recolhe os passos que deixei espalhados.
Se fosse o dono do tempo, ousaria dizer
Que todas as falhas que tive foram por não saber
Que você é o melhor de mim,
Que o meu sangue pulsa em ti,
E que um dia — um dia — seremos felizes, enfim.
O vento arrasta lembranças como páginas incendiadas,
E cada uma escreve teu nome em grafias desalinhadas.
O que fomos ainda ecoa no chão rachado do ontem,
Mas sigo, mesmo torto, sabendo que a paz te encontra onde esteja.
Entre antenas de sombra e ruídos de neon,
Teu riso fantasma vibra no meu pulmão.
Arquiteturas de silêncio se erguem ao redor,
Mas ainda escuto o que deixamos: um sussurro que não morreu.
Se fosse o dono do tempo, ousaria dizer
Que todas as falhas que tive foram por não saber
Que você é o melhor de mim,
Que o meu sangue pulsa em ti,
E que um dia — mesmo distantes — seremos felizes,
no compasso que a vida permitir.
