Hemorragia
Composição: Tiago Barros.Irreconhecível — serás tu em tua moldura fraturada,
Perto da juventude adormecida em formol lunar.
Vejo teus contornos se partirem em cidades evaporadas,
Enquanto o pulso do passado tenta se reanimar.
Perderás a ambição de violar os limites impostos,
Como pássaros cegos batendo no vidro do destino.
O tempo mastigará tudo e cuspirá em ecos roucos,
Transformando cada “o que é” em um fantasma cristalino.
Teu espírito — uma chama presa em frascos — vai morrer na mão do hábito.
Tua mente — até ontem febril — render-se-á ao ruído estático.
E encontrarás algum lugar onde possas enterrar tuas canções,
Esconder teus objetos como restos de um deus que falhou.
Engolirás o grito de revolução por medo das multidões,
Pra que riam menos de ti, pra que teu rosto pareça “normal” ao que restou.
Olha o que ficou… olha o que se perdeu — e nada voltará!
Eu não seguirei teu ciclo, não vestirei essa pele de evolução forçada.
Mesmo que tentem estrangular o brilho cru da minha voz,
Mesmo que eu sangre na fenda onde a resistência é selada,
Eu erguerei meu próprio templo no caos que vive em nós.
Não desanimar, nunca esquecer —
pois só desabo se me tornar tua sombra enrijecida.
Se eu for igual a você, queimada a chama do que quero ser,
As portas se fecham, a janela se rende, a alma fica perseguida.
Isso se eu for igual… (isso se eu for igual)
Isso se eu for igual a você… (igual a você)
Se eu deixar cair… (se eu deixar cair)
Se eu deixar adormecer… (deixar adormecer)
Mas não — não adormecerei.
O canto que resiste ainda queime,
Ainda fira,
Ainda me salve do teu esquecer.
